Da Agência Brasil Roraima
Homens, mulheres e crianças, a maioria sonolentos, esperavam o momento que promete mudar suas vidas. Mal passava das 5h da manhã em Boa Vista, 233 venezuelanos se preparavam para entrar no Boeing 767 da Força Aérea Brasileira (FAB). Destes, 164 desembarcariam em Manaus e 69 seguiriam para São Paulo.
A cabeça de Xavier Mendes (43), já está na Terra da Garoa. Para ele, assim como para tantos outros, o caminho para chegar no Brasil foi duro. Escapando da fome e da falta de emprego chegou a carregar gasolina contrabandeada entre Venezuela e Guiana nas costas para conseguir uns poucos gramas de ouro. Esse período deixou marcas, literalmente. Xavier não percebia que o combustível vazava nas suas costas. “O suor misturava com a gasolina e me queimava pouco a pouco. Eu não percebia por causa das chuvas que pegava”, disse.
No saguão do Aeroporto de Boa Vista, Xavier levanta a camisa e mostra a mancha escura na pele. E conta o que fez ao chegar no Brasil. “Eu não gostava de ficar na praça com outros venezuelanos. Tinha gente ruim lá, roubava os outros. Preferia ficar caminhando perto do comércio em busca de algo”, explicou.
Lá conseguiu um bico em uma loja que se preparava para a inauguração. Fez a limpeza do local, depois cuidou do mato que ficava próximo. Logo conquistou a confiança de outros comerciantes. “Um deles me levou para fazer serviços em sua casa, como jardinagem. Ganhava R$ 50 de diária”, diz o técnico em economia. “Falo um pouco de inglês e italiano também”.
Apesar do caminho árduo até chegar àquele momento, no saguão do Aeroporto de Boa Vista, Xavier não carrega um fardo. Sorri em diversos momentos e conta sua história como se aquele sofrimento não lhe pertencesse. “Estou muito feliz. Espero coisas boas em São Paulo”.
O voo 767 da FAB decolou às 9h30 (horário de Brasília), com o segundo grupo de venezuelanos que participam do processo de interiorização. O primeiro grupo, foi para São Paulo, com 199 pessoas, e Cuiabá, 66 pessoas, nos dias 5 e 6 de abril. Só viaja quem se voluntariar. Além disso precisa ter o perfil desejado pelos abrigos.
Em São Paulo, por exemplo, a preferência é por homens solteiros, pela empregabilidade. Já Manaus aceita famílias inteiras. As vagas são buscadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Organização das Nações Unidas para refugiados, nos abrigos.
Pelas estimativas das autoridades locais e da Casa Civil, cerca de 4 mil venezuelanos ainda estão em Boa Vista. Em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, 500 migrantes estão alojados em um abrigo. O Exército já trabalha com a ampliação das estruturas de alojamento e acolhimento de venezuelanos nas duas cidades.
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