Harmonia Assembleia, bicheiro e deputados começa ser desmontada em MT

Ex-presidente da Assembleia, José Geraldo Riva, revela em acordo de colaboração premiada com o Ministério Público (MP) de Mato Grosso, que o Legislativo daquele Estado chegou a dever R$ 25 milhões ao ex-comendador João Arcanjo Ribeiro e a dezenas de factorings. Os detalhes estão no termo de proposta de colaboração premiada entregue à procuradora de Justiça, Ana Cristina Bardusco.

No capítulo em que Riva relata fatos relacionados à Operação Arca de Noé, de 2002, que desmontou o crime organizado em Mato Grosso e começou o declínio de Arcanjo, ele afirma que soube já no primeiro mês em que assumiu o mandato de deputado e o cargo de primeiro-secretário da Mesa Diretora da AL, do valor da dívida de R$ 25 milhões junto a factotings, que “extrapolavam de sua atribuição funcionando como verdadeiras instituições financeiras na concessão de empréstimos”.

“O Sr. João Arcanjo Ribeiro, conhecido como Comendador, tinha 70% desse crédito”, relata o ex-deputado completando que os demais 30% eram de factorings que não pertenciam ao ex-bicheiro.

Riva ainda relata que foi convocado para uma reunião na casa de João Arcanjo, onde ele e outros deputados iriam negociar dívidas da AL. Na reunião, estiveram presentes os ex-deputados Humberto Bosaipo, Roberto Nunes, Rene Barbour (já falecido) e Gilmar Fabris, além do empresário Nilson Roberto e o contador Luiz Dondo.

Mas o assunto da reunião, segundo Riva, era para fazê-lo desistir de concorrer à reeleição da Mesa Diretora. Arcanjo alegava que, mediante a renúncia, a dívida de R$ 25 milhões seria paga com a ajuda do então governador Dante de Oliveira. Porém, Riva não renunciou e foi eleito presidente da Assembleia em 1999, tendo Bosaipo como primeiro-secretário.

“Foi justamente nesse período que surgiram as empresas constituídas em nome de interpostas pessoas e até mesmo de indivíduos já falecidos que deram suporte aos pagamentos efetuados ao Sr. João Arcanjo Ribeiro e outros credores, além de servir a novos empréstimos, que deram origem à Operação Arca de Noé”, consta em trecho do documento ao qual A Gazeta teve acesso.

Riva relata que empresas foram criadas por pessoas ligadas a Bosaipo e aos contadores Joel, José Quirino e Luiz Dondo, ligado a João Arcanjo Ribeiro, além do empresário Nilson Roberto Teixeira, dono de vários postos de combustíveis.

“Naquela época, o colaborador foi chamado pelo Dep. Humberto Bosaipo, que disse o seguinte: – Presidente, encontrei uma forma de liquidar as contas com o Sr. Arcanjo e de outras factorings, sendo que eles mesmos ficarão responsáveis em constituir empresas que, além de dar suporte para esses pagamentos, ainda fornecerão uma quantidade mínima de materiais para a ALMT”, revela na colaboração.

Riva garante que se reuniu com o recém governador reeleito Dante de Oliveira juntamente com Bosaipo onde ficou acertado um complemento no orçamento da Assembleia para quitar as dívidas com Arcanjo e outras empresas de factorings. Segundo Riva, Dante condicionou o aumento do duodécimo com o apoio dos deputados para os principais projetos do governo. Com isso, o governo teria repassado valores a mais do que estava previsto no orçamento para quitar a dívida com o bicheiro.

Riva também relata que parte da dívida pertencente a Arcanjo foi comprada por uma outra pessoa, que ficou de revelar em depoimentos posteriores. “Quanto à operacionalização dos negócios ilícitos, é certo que ocorria mediante processos licitatórios totalmente viciados, garantindo-se assim que apenas as empresas de fachada pertencentes ao grupo do Sr. Arcanjo vencessem os certames”.

O ex-deputado ainda afirma que as empresas criadas auxiliaram no pagamento de campanhas eleitorais dos demais deputados. Riva conta que o pagamento das defesas dos parlamentares envolvidos no esquema era feito por ele. “Enquanto atuou na defesa de Humberto Bosaipo, o advogado Paulo Taques recebia seus honorários de recursos desviados da AL, situação interrompida quando Bosaipo trocou de advogado, não sabendo explicar com relação aos demais”.

A colaboração de Riva também afirma que os auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Mato Grosso, que atuaram nas auditorias no processo de investigação feito pelo MP na Assembleia, teriam recebidos vantagens ilícitas. Como provas, Riva apresentou relatórios de pagamentos, notas promissórias e anexos de várias ações penais em que os documentos foram apreendidos em operações policiais.

Outro lado

A defesa do ex-deputado e ex-conselheiro Humberto Bosaipo afirma que essas declarações já haviam sido desmentidas pelo próprio José Riva em fevereiro de 2017 durante uma audiência na 7ª Vara Criminal. Além disso, a defesa lembra que em todas as ações relacionadas ao caso, ainda não foram apresentadas provas da participação de Bosaipo.

Ela também questiona o interesse do Ministério Público em firmar delação com o ex-deputado sobre esse fato. “Parece que existe um desejo do Ministério Público em prender o ex-deputado Humberto Bosaipo, já que ele foi o único que não foi preso”. O advogado Paulo Taques disse que na época, recebeu honorários pelo trabalho executado. “Sobre esses crimes que Riva confessa não tenho conhecimento”.

Já a defesa do contador Luiz Dondo disse que ele apenas fazia a contabilidade do grupo empresarial de João Arcanjo e que abria empresas para o Comendador e não em nome de terceiros. “No mais, não posso comentar mais nada antes de ter acesso ao depoimento”, destaca o advogado Ueber Roberto de Carvalho.

A reportagem entrou em contato com o ex-deputado Gilmar Fabris com diversas ligações que não foram atendidas.
Já o ex-deputado Roberto Nunes, o empresário Nilson Teixeira e os contadores Joel e José Quirino, não foram localizados para comentar o depoimento.

Fonte: Gazeta Digital/MT

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