Médico esclarece sobre obesidade infantil, hoje em nível elevado

Às vésperas do retorno do ano letivo, um tema deve fazer parte da lista de cuidados dos pais e educadores: a obesidade infanto-juvenil e o bullying, que consiste em atos de agressão e intimidação repetitivos contra uma pessoa. A situação ocorre comumente nos grupos escolares, mas pode se manifestar em outros ambientes. 

Muitas vezes, a criança e jovem com sobrepeso ou obesidade, enfrenta ainda o preconceito além da necessidade de atenção à saúde e qualidade de vida. De acordo com informações do Ministério da Saúde, divulgadas em setembro de 2022, a obesidade em crianças e adolescentes é multifatorial, onde condições genéticas, individuais, comportamentais e ambientais podem influenciar no estado nutricional. 

O relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, com dados de pessoas acompanhadas na Atenção Primária à Saúde (APS), aponta que, até meados de setembro de 2022, mais de 340 mil crianças de 5 a 10 anos de idade foram diagnosticadas com obesidade. Em 2021, a APS diagnosticou obesidade em 356 mil crianças dessa mesma idade. 

A região Centro-Oeste ocupa o 4° lugar no ranking nacional, com cerca de 9,4% das crianças e jovens com sobrepeso e obesidade. O Sul do Brasil lidera com mais de 11,5% da população infanto-juvenil obesa. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) reconhece a obesidade como um problema de saúde pública. Por ser multifatorial, a doença exige intervenções integradas de diversos setores, além da saúde, para deter o avanço e garantir o pleno desenvolvimento durante a infância.

Médico especialista na Saúde do Esporte, Dr. Hugo Alessy destaca que além de questões de saúde, hábitos inadequados colaboram para a incidência do problema, que pode se tornar doença se não controlado.  

“A obesidade infantil hoje ganhou um patamar de epidemia devido ao número elevado de casos em todo o mundo. A causa e multifatorial, o que fez aumentar esse índice é a mudança no estilo de vida do mundo moderno. Ou seja: sedentarismo, alimentação incorreta, falta de sono e ainda podemos apontar a ansiedade e/ ou depressão. Outro ponto importante é a atividade física, já que as brincadeiras das crianças mudaram no decorrer dos anos. Há alguns anos, as crianças brincavam nas ruas, correndo e pulando enquanto hoje, elas passam muito mais tempo sentadas no sofá, de olho nos televisores, laptops ou videogames. Com o passar dos anos, houve uma drástica mudança nos comportamentos alimentares das casas, em todo o mundo e as crianças e jovens passaram a ter contato com alimentos industrializados e hipercalóricos, e se afastaram da alimentação saudável, como frutas, saladas e alimentos ricos em nutrientes”, avalia o médico.

Saúde emocional – Ainda segundo Dr. Hugo Alessy, é comum na medicina o relato de crianças e adolescentes que sofrem preconceito e até mesmo práticas violentas devido a obesidade e o apoio e orientação emocional às vítimas é essencial para evitar danos maiores. De acordo com levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40% dos estudantes brasileiros (maioria adolescentes) admitiram já ter sofrido com a prática de bullying, baseado nas mais variadas causas.

“O bullying é muito presente na infância principalmente quando relacionado a alguma característica física, sendo pior para as crianças obesas. A melhor forma de tentar combater essa prática e com muito acolhimento e menos julgamento. O diálogo e a conscientização são essenciais. É preciso que a rede de apoio (pais, professores, colegas e demais atores sociais) esteja alinhada para prestar o cuidado adequado tanto à vítima do bullying como também ao agressor, pois, essa agressividade pode estar camuflando outras necessidades. O bullying nessa fase pode tanto acentuar o quadro de obesidade como desenvolver sérios danos em toda a vida adulta”, orienta.  

Tão preocupante quanto a violência do bullying e os riscos relacionados à obesidade precoce é a falta de atenção dos pais ou responsáveis pelas crianças que, segundo Dr. Hugo Alessy, ainda acreditam que ‘a criança forte’ é mais saudável. 

“Poucos pais se atentam à situação e buscam suporte médico. Infelizmente ainda há a cultura de que criança ‘gordinha’ é sinônimo de saúde. É mais comum pais levarem as crianças ao consultório preocupados que seus filhos estão magros demais, que não comem e chegando até a pedir medicação para abrir o apetite das crianças, quando na verdade as crianças estão com o peso adequando para a idade”, esclarece.

Saúde e mudança de hábitos

Emagrecer não é tarefa fácil e exige disciplina e apoio, em especial para as crianças e adolescentes. Manter o peso ideal não se trata de questões estéticas e sim, de atenção à fase determinante da vida, onde o ser humano está em formação física e emocional.

“A família é a base de tudo e os pais ou responsáveis quem devem orientar a alimentação dos filhos. A criança vai comer o que lhe é ofertado e se na casa a alimentação não é saudável, não há como os filhos seguirem uma rotina de alimentação adequada. Cabe ainda aos pais incentivar a prática de atividades físicas, os esportes, as brincadeiras longe da televisão, do computador e dos celulares e até mesmo limitar o tempo de uso desses eletrônicos”, indica o profissional da saúde. 

O protocolo para tratar a obesidade e sobrepeso consiste na mudança do estilo de vida, pois, o acompanhamento das crianças com excesso de peso envolve vários aspectos e é sobretudo comportamental, enfocando reeducação nutricional e na prática de atividade física e redução do uso de eletrônicos, lembrando que é importante que toda a família deve estar envolvida.

“A busca por auxílio médico e de fundamental importância e a orientação de um profissional capacitado e de estrema relevância para mudar esse quadro”, finaliza o médico. Vale ressaltar que a orientação médica cabe tanto para os casos de obesidade quanto de bullying. Toda atenção às crianças e jovens é indispensável.  

Trocas importantes – Mesmo que iniciadas aos poucos, a troca de hábitos é o início do tratamento para a obesidade. O descascar alimentos é sempre muito mais saudável que o desembalar. Os biscoitos, snacks e salgadinhos podem e devem dar vez às frutas ou saladas de frutas. Assim como os nuggets, fastfoods e alimentos ultra processados devem ser substituídos por alimentos ricos em fibras, vitaminas e componentes indispensáveis para a saúde das crianças e de seu corpo e mente em formação. 

Aquela caminhada, passeio de bike, partida de futebol ou queimada entre familiares e amigos é muito mais saudável sob todos os aspectos do que horas diante das telas e jogos eletrônicos. O importante é iniciar, mesmo que aos poucos e contar com orientação profissional que indicará a melhor alimentação e atividades a serem desenvolvidas. 

UNA Comunicação 

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